sábado, 8 de dezembro de 2007

Cufa-Sergipe visita comunidades para a realização do primeiro documentário

Os primeiros passos para a criação de uma Central Única das Favelas em Sergipe nos ensinam muito mais do que pensamos sobre a realidade da periferia urbana.

30-11-2007

As primeiras imagens para o documentário do Cufa-Sergipe foram realizadas no loteamento Novo Horizonte, situado no Marcos Freire III, bairro localizado em Nossa Senhora do Socorro. O município apresenta dados alarmantes, refletidos na cruel realidade que pudemos constatar em nossa visita à comunidade, no último dia 11 de novembro.

Para atender a população de 200 mil pessoas, a prefeitura oferece apenas um hospital! Em contrapartida, há mais de 1.020 unidades empresariais cadastradas no local. Assim Como a saúde pública, a educação também é deficiente. Apenas 34 escolas estão disponíveis para a comunidade.
[1]

A segunda área visitada foi o bairro Sagrada Família, mais popularmente conhecida como Coqueiral, comunidade incrustada na base do Morro do Urubu, ponto mais alto da cidade de Aracaju. Nessa área de preservação ambiental – com remanescentes de vegetação da mata atlântica e de vegetação de mangue -, passamos por habitações de taipa, de madeira de resto de construção e até de papelão e lonas plásticas.

A população de 6 mil habitantes convive com ruas sem pavimentação e sem saneamento básico, com esgotos sendo despejados a céu aberto. O nível de pobreza e miséria é significativo, e grande parte dos moradores é desempregada ou possui sub-emprego, e o nível de violência é considerado alto.

Impressões

O Novo Horizonte é um daqueles lugares que você já ouviu falar, mas não faz idéia de onde fica. Acabei descobrindo que é longe pra caramba e que as coisas por lá não são tão legais. Era engraçado o modo como as pessoas se abriam pra gente, e sempre nos pedindo para que fizéssemos algo por eles, mas o que poderíamos fazer, de imediato? O local sofre com o principal problema das periferias de todo o Brasil: o descaso. Coisas básicas, como o calçamento das ruas, o saneamento, nada disso existe por lá.

Um dos pontos principais da nossa visita foi a filmagem que fizemos num ponto de tráfico (ou ‘boca-de-fumo’). Um ‘boqueiro’ e três rapazes presentes no local nos falaram sobre a discriminação que sofrem e sobre a educação. De acordo com o comerciante, a escola seria “uma merda”, por não trazer estímulo nenhum, além do preconceito e da exclusão que eles sofriam. Apesar de acreditarmos na educação como instrumento de transformações, fica o questionamento: será que ela realmente é capaz de mudar a nossa realidade? O que faz jovens como esse que conhecemos, de apenas 19 anos, trocar a escola pelo tráfico?

No Coqueiral, que inicialmente era uma colônia de pescadores, conhecemos dona Sandra, uma mulher simpática e sorridente, com uma história de vida daquelas, recheadas de luta contra a opressão e o machismo, e muita perseverança. A situação por lá não é nada boa; os índices de violência são altíssimos. Além de todo o problema estrutural do lugar, não vimos nenhuma escola no bairro (a única que vimos fica no Porto Dantas), não há praças, calçamento, pavimentação, saneamento básico, etc.
Além de dona Sandra, o sapateiro e ex-pescador Sr. Macarrão nos ajudou a conhecer a vegetação do mangue. Outros moradores também contribuíram com nosso documentário, falando sobre temas como a educação (novamente). Todos os nossos entrevistados alegaram não ter concluído sequer a oitava série, porque tiveram que priorizar o trabalho. Também nos chamou atenção a forte presença de uma cultura machista no discurso dos homens, e a grande quantidade de bares e igrejas evangélicas. Será que podemos analisar esse fenômeno como locais para refúgio dos problemas? Ficam as reflexões...

Rafael Aragão e Priscila Viana.
Central Única das Favelas (Cufa) – Sergipe.

[1] Os dados podem ser encontrados no website do município: http://www.socorrose.com.br/acidade.asp.

Nenhum comentário: